Carros para sempre: Chevrolet Kadett - O carro da próxima década
Desde o lançamento do Monza sete anos antes, a Chevrolet não
apresentava nenhuma novidade de peso. E a tendência do mercado no final
da década de 1980 apontava para os hatches médios, carros com bom espaço
interno, acabamento refinado, diversos itens de conveniência e motores
de maior cilindrada. A Ford já vendia o Escort com sucesso no Brasil,
trazendo uma receita de origem europeia. Aproveitando o bom momento do
rival, a Chevrolet lançava o Kadett em abril de 1989.
Disponível em três versões de acabamento (SL, SL/E e GS), o modelo
era oferecido somente com carroceria de três portas. O design era
arrojado e incorporava as ultimas tendências, como vidros do para-brisa
e da tampa traseira rentes à lataria, graças ao processo de montagem por
colagem – pela primeira vez num veiculo nacional. Mas a principal
característica de estilo do Kadett eram as tomadas de ar nas colunas
traseiras.
Todas as versões vinham de série com volante regulável, display com
luzes de advertência e vidros verdes. Entre os opcionais estavam câmbio
automático (só disponível com motor a álcool), ar-condicionado, direção
hidráulica, regulagem de altura do banco e da suspensão, rodas de liga e
rádio com toca-fitas.
A versão esportiva GS era a mais desejada. Trazia para-choques na cor
do carro e saias laterais com desenho próprio, faróis de neblina e luz
de neblina traseira inserida no para-choque, saída de ar no capô, rodas
com desenho exclusivo, lanternas traseiras frisadas, ponteira dupla de
escapamento e um aerofólio traseiro. Em função desta peça, o limpador
traseiro era fixado no próprio vidro, outra solução inovadora na época.
Tanto que as campanhas publicitárias do modelo falavam em “o carro da
próxima década”.
O Kadett nasceu com duas opções de motor: 1.8 de 95 cv a gasolina ou
álcool e o 2.0 a álcool, que rendia 110 cv, exclusivo da versão GS. A
suspensão tinha ajuste de altura na traseira através de bombas de ar nos
amortecedores. Era necessário apenas calibrá-los para nivelar a altura
da traseira de acordo com o peso que estivesse sendo transportado – mais
uma exclusividade que só o Kadett oferecia.
O interior era familiar para quem já tinha um Monza na garagem. Mas o
desenho do painel acoplava novas soluções, como computador de bordo e
sistema de verificação (check-control). O GS recebia ainda bancos
Recaro, painel com grafismo vermelho e volante de três raios com pegada
mais esportiva.
Ainda em 1989 surgia a primeira variante do Kadett, a station-wagon
Ipanema. Ela vinha disputar espaço com as já consagradas Volkswagen
Parati, Fiat Elba e Ford Belina. Mantendo boa parte do desenho do hatch
(inclusive as duas portas), a Ipanema se mostrava preocupada com a
aerodinâmica, usando os vidros rentes à carroceria, mas deixava de lado
a harmonia das linhas. Boa parte das críticas ficaram para o desenho da
tampa traseira, que parecia ter sofrido um corte. Mas o porta-malas era
bom: 424 litros. Oferecida em duas versões (SL e SL/E), a Ipanema seguia
à risca o que era ofertado no Kadett em termos de equipamentos.
Com a Copa do Mundo de Futebol na Itália, em 1990, a Chevrolet
apresentou a série especial Kadett Turim, montada sobre a versão GS com
preço próximo ao da SL/E. A série vinha com bancos Recaro de tecido
preto, aerofólio traseiro sem o limpador no vidro, rodas de alumínio da
versão SL/E e pintura em preto fosco nas laterais inferiores. No mesmo
ano chegava o tão desejado teto-solar, como opcional para as versões
SL/E e GS.
O ano de 1992 revelaria boas novidades para toda a linha. Com a nova
lei de poluentes, conhecida como Proconve, a Chevrolet abandonava o
carburador na linha Monza e Kadett, e anunciava a chegada da injeção
eletrônica monoponto digital, fazendo com que os propulsores ganhassem
cerca de três a quatro cavalos de potencia. A versão esportiva recebia
nova denominação, agora GSi, devido à injeção multiponto analógica no
motor 2.0, que agora obtinha 121 cv e 17,6 kgfm de torque. A mudança foi
acompanhada de um retoque visual, com luzes de direção dianteiras
incolores (antes eram laranja), tampa traseira sem a faixa preta
característica, antena no teto, novas faixas decorativas e rodas com
novo desenho. O painel ganhava mostradores digitais e o encosto de
cabeça passava a ser vazado.
Nesse mesmo ano estreava a versão mais exclusiva do Kadett, a GSi
conversível – um verdadeiro sonho de consumo da época, ao lado do Escort
XR-3 também sem capota. O Chevrolet conversível era fabricado em
parceria com o estúdio de design italiano Bertone, o que levava a uma
logística complicada. As estruturas metálicas eram montadas na fábrica
da GM e então enviadas para a Itália, onde os “carrozziere” davam a
forma de conversível ao Kadett. Depois desse processo, a carroceria
voltava ao Brasil para receber a mecânica, a pintura, o acabamento e a
capota. Todo esse processo demorava cerca de seis meses.
A capota tinha acionamento manual e, quando baixada, revelava as
belas linhas pinceladas por Bertone, tornando o Kadett conversível um
dos automóveis mais belos do mercado nacional. Nas concessionárias era
possível adquirir o sistema elétrico de acionamento da capota,
originário da Itália. Esse acessório era tão caro (cerca de US$ 4 mil)
que se ele fosse danificado as seguradoras avaliavam o carro como perda
total, preferindo pagar o valor total do veículo ao ter que mandá-lo de
volta à Itália para fazer o reparo na capota. Em 1993 a capota elétrica
passou a constar na lista de equipamentos do Kadett, mas rodar com um
GSi conversível custava caro: cerca de Cr$ 612 435 000, o equivalente
hoje a R$ 188 mil reais.
No mesmo ano, chegava a opção quatro portas para a Ipanema e o
propulsor 2.0 EFI de 110 cv a álcool. As portas extras fizeram bem à
perua, que logo teve uma alta nas vendas, mas ela nunca chegou a ser uma
campeã de audiência.
Em 1995 a linha Kadett recebia novo painel de instrumentos, comandos
dos vidros elétricos nas portas e um novo alarme acionado pela chave
(sem a necessidade de passar o imã junto ao para-brisa para ativá-lo).
As versões traziam nova nomenclatura, passando de SL e SL/E para GL e
GLS. O GSi permanecia só até dezembro, quando a Chevrolet descontinuou o
esportivo para dar lugar ao Astra GLS importado da Bélgica. Graças à
queda da alíquota de importação, foi possível importar o modelo com
preço competitivo nas versões hatch e perua.
Mas em fevereiro de 1996 as regras para importação mudaram novamente,
com o imposto subindo de 20% para 70% e tornando inviável importar o
Astra a preços condizentes. Para não perder mercado, em cerca de dois
meses a Chevrolet apresentou uma nova versão para o Kadett, denominada
Sport, que vinha com motor 2.0, para-choques na cor do carro e detalhes
da extinta versão GSi.
Ainda 1996 o Kadett passaria por uma reestilização que o deixaria
mais próximo aos modelos da Opel. Os para-choques ganhavam novo desenho,
mais arredondado e com pintura na cor da carroceria em todas as versões,
além de nova grade dianteira e lanternas traseiras fumê. Mesmo assim, o
Chevrolet se mostrava ultrapassado diante da concorrência. A nova
geração do Escort já estava nas lojas, a Volkswagen trazia o Golf do
México e a Fiat estava iniciando a produção do Tipo em Minas Gerais. Com
baixas vendas, a Ipanema foi descontinuada em 1997, enquanto o Kadett
passava a oferecer o motor 2.0 com 110 cv para todas as versões.
Em abril do mesmo ano a versão GLS voltava à gama com um novo cambio
de relações mais curtas, vindo do Vectra, que não condizia com o motor
de alto torque. O desempenho continuava ótimo, mas o nível de ruído
incomodava em rodovias. Em seu último ano de produção, o Kadett era
oferecido somente versão GLS, até dar lugar à nova geração do Astra em
1998.