Dizem que uma das razões para o sucesso urbano dos SUVs é a posição
mais alta de dirigir. Pode ser. Mas certamente isso não está entre as
justificativas para um empresário paulistano adotar o caminhão como seu
meio de transporte preferido. Na contramão da tendência do downsizing e
dos compactos e econômicos carros urbanos, o programador Osvaldo Tadeu
Strada, 54 anos, não abre mão de ir trabalhar ao volante de um de seus
27 caminhões, 22 deles da marca FNM, o primeiro fabricado no Brasil.
Produzidos durante 35 anos - a partir da década de 50 - pela Fábrica
Nacional de Motores, os FNM eram equipados com motores Alfa Romeo e
tornaram- se populares em nossas estradas, conquistando a fidelidade de
muitos caminhoneiros. Entre eles, o pai de Osvaldo, que o influenciou na
paixão pela marca e pelo mundo dos pesados. "Meu pai ensinou todos
em casa a dirigir FNM: minha mãe, as três irmãs e eu."
O colecionador já chegou a atravessar a cidade de São Paulo todos os
dias de caminhão, já que mora na Serra da Cantareira (zona norte) e tem
escritório na Chácara Santo Antônio (zona sul). "Atualmente, vou
uma vez por semana de caminhão, devido à restrição de circulação",
diz Strada. "Sem dúvida, me acham um maluco, mas é uma verdadeira
satisfação."
Brinquedo
A coleção começou em 2000, com um caminhão baú, mas só no ano
seguinte realizou o sonho de adquirir um FNM, que por coincidência
encontrou na rua onde morava, na Vila Maria, zona norte. "Como
estava muito deteriorado, paguei apenas 5 000 reais, mas nunca fiquei
tão feliz com uma aquisição. Tratava-se de um D 11 Standart 1965
prata", diz Strada, que já começou a circular pela cidade com o
"novo" brinquedo.
No mesmo ano, ao sair para trocar sua Hilux antiga por uma zero-
quilômetro, resolveu comprar um cavalo mecânico da Volvo na
concessionária em frente. "E para explicar para minha esposa que
tinha trocado o carro por um caminhão", diz Strada, que passou a
usar o veículo como carro de passeio.
Ele achava que era o único que colecionava caminhões, até que soube
de um evento chamado Alfa Day, que reunia os aficionados por Alfa Romeo.
"Fui com o FNM prata, o único na época, no encontro realizado em
2004 na cidade de Avaré e fiquei satisfeito ao encontrar outros
admiradores de FNM."
A partir daí, começou a comprar um atrás do outro. Em 2006 sua
coleção já somava 15 caminhões e ele teve de arrumar um jeito para
guardálos. Como tinha uma chácara em Pilar do Sul, interior de São
Paulo, decidiu construir um galpão de 1 600 metros quadrados. No mesmo
ano, contratou um funileiro apenas para restaurar os caminhões e decidiu
investir na formação do caseiro da chácara para que pudesse cuidar de
seu acervo de maneira mais criteriosa. "Atualmente, financio uma
faculdade de engenharia para que ele possa aperfeiçoar os sistemas
mecânicos dos FNM."
Como viaja bastante com os caminhões, aprimora os motores sem ficar
preso a purismos. "Altero a compressão e atualizo os
componentes", afirma Strada, que divide sua coleção em dois
segmentos: os caminhões para exposição, aqueles que mantêm a mecânica
original, e os para circular regularmente.
Em sua chácara há uma verdadeira linha de montagem, com direito a
áreas de funilaria, pintura e mecânica, além de estoque suficiente para
montar dez caminhões FNM. "O caminhão é reconstruído", diz
Strada, que também se preocupa com o acabamento, instalando revestimento
de couro nos estofamentos, nos painéis de instrumentos e nas maçanetas
originais. Cada restauração leva um ano e meio para ser concluída.
O galpão conta ainda com um mezanino com seis suítes para hospedar os
amigos que chegam de FNM. Segundo Strada, a grande satisfação de ter
entrado nesse ramo foram as amizades verdadeiras que conquistou e por
isso quer sempre cultivá-las.
Em 2007 resolveu lançar o site AlfaFNM, para resgatar a história da
marca. "A intenção é mostrar para as novas gerações a importância
da fábrica na história do nosso transporte. O portal já recebe 700 000
visitas por ano."
FNM
A Fábrica Nacional de Motores (FNM) foi inaugurada em 1942 na cidade
de Duque de Caxias (RJ). Até 1948 ela produziu, principalmente, motores
aeronáuticos. Em 1950 a FNM foi vendida para Alfa Romeo. Em 1952 lançou
o FNM D-9500, que foi bem aceito graças a sua robustez. Em 1972,
apresentou o FNM 180 e 210. Em 1976 a Fiat comprou a marca e encerrou a
produção em 1979, passando a fabricar o Fiat 190.
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