O Fusca 1973 do militar reformado Marcos Siqueira, 75, passou na inspeção de originalidade, mas não chegou a ter a placa preta fixada. Foi roubado antes.
"Entraram no estacionamento só para levar o meu Volks", diz Siqueira, que procura pelo sedã vermelho desde o episódio, em dezembro.
Segundo o Clube do Carro Antigo do Brasil, o roubo de veículos com mais de 30 anos é cada vez mais comum. "Principalmente depois que o mercado de antigos ganhou força, de uns três anos para cá", calcula o presidente da entidade, Ricardo Luna.
O governo do Estado não contabiliza as ocorrências conforme o ano do veículo. Mas, de 2008 a 2011, o número total de furtos e roubos cresceu 16% em São Paulo, chegando a 184,2 mil registros.
Presas Fáceis
A precariedade dos antifurtos originais dos antigos os transformam em presas fáceis. O fato de chegarem a custar até mais que um zero-quilômetro é outro chamariz.
Nacionais dos anos 1960 e 1970, como o Fusca e o Dodge Charger, são visados por terem virado moda entre os jovens.
Sem tantos recursos financeiros, muitos dos novos consumidores optam por um exemplar em mau estado e mais barato para, em seguida, fazer uma restauração. A prática, indiretamente, acaba fomentando o mercado negro, já que a maioria das peças de reposição deixaram de ser fabricadas há décadas.
Como as seguradoras não oferecem apólices para os antigos - de difícil precificação - uma alternativa para proteger esse tipo de carro é o rastreador por GPS ou telefonia, que facilita a localização. O serviço custa cerca de R$80,00 por mês.
A internet também tem ajudado na recuperação. "Assim que levaram meu Chevrolet Opala 1972, disparei centenas de e-mails. Acharam o carro logo depois", conta Mario Medice, 36.
"A notícia se espalhou de tal forma que, depois que encontrei o automóvel, um sujeito me ligou para dizer que tinha visto o Opala entrando em uma garagem. Por sorte, era eu chegando em casa."
Novos Clássicos
Modelos que fizeram sucesso no fim dos anos 1980 e no início da década de 1990 já entraram na lista de clássicos. Os mais cultuados são os esportivos, como o Volkswagen Gol GTi (primeiro nacional com injeção eletrônica) e o Ford Escort XR3 conversível.
Em bom estado, esses modelos chegam a custar entre R$ 15 mil e R$ 20 mil, quase o dobro do que é pedido hoje por um sedã de luxo daquele tempo.
"A tendência é que se valorizem ainda mais e se tornem um bom investimento", afirma Sérgio Fontana, colecionador de clássicos e dono de uma loja de acessórios para carros fora de linha.
Uma das explicações para a valorização é a falta de opções na época. Antes da chegada dos importados, no final de 1990, os esportivos nacionais eram os carros mais sofisticados do mercado.
O analista de suporte técnico Leandro Pinto, 37, conta que não perderá dinheiro na hora de vender seu Kadett GSi 1992.
"Hoje me oferecem o mesmo valor que paguei pelo carro há um ano", diz ele. Usados "normais" depreciam entre 5% e 20% num intervalo de 12 meses, dependendo da idade e do modelo. |