Por Fabiano Pereira | Fotos: Marco de Bari
O Saab 96 representou a maturidade do primeiro carro da marca, um projeto que sobreviveu por 30 anos
O recente acordo de compra pela holandesa Spyker pôs a Saab várias vezes nas manchetes. Abreviação de Svenska Aeroplan Aktiebolaget, a marca nasceu em 1937 em Trollhättan, Suécia, produzindo aviões militares. Dois anos depois, o modelo 92, seu primeiro carro, já era idealizado. Por causa da Segunda Guerra, o protótipo só ficaria pronto em 1946 e a produção começaria apenas em dezembro de 1949.
Compacto em forma de gota com portas “suicidas”, ele tinha aerodinâmica de avião, mas nem de longe dava rasantes – seu motor dois-tempos, com dois cilindros e 764 cm3, entregava só 25 cv. O câmbio de três velocidades comandava as rodas dianteiras até 105 km/h. Em 1956, o modelo foi atualizado como Saab 93. Com três cilindros e 748 cm3, o motor produzia 33 cv. Barras de torção da suspensão foram trocadas por molas helicoidais e braços sobrepostos, os pneus vinham sem câmara e na nova frente a grade se assemelhava a uma ferradura.
Além da embreagem automática Saxomat opcional, em 1957 o Saab 93 foi lançado nos Estados Unidos, que em dois anos já era o maior importador da marca. Com carburação dupla, o 93 GT750 tinha 50 cv e ainda podia ser preparado para mais 5 com o kit Super. Ainda em 1959 chegaria a perua 95. Com um banco dobrável no porta-malas, levava até sete pessoas – desde que ao menos duas fossem crianças...
Nova evolução viria em 1960, batizada de 96. As portas abriam para a frente, os para-lamas traseiros estavam mais elevados, a janela de trás envolvia as colunas e a ventilação foi aprimorada. O motor de 841 cm3 produzia 42 cv. Cintos de segurança vinham de série já em 1962, quando chegou a versão Sport com freios dianteiros a disco, carburação tripla e 10 cv a mais. Freios de duplo circuito dividido diagonalmente inovariam em 1964.
Nas fotos vemos um Saab 96 Monte Carlo 1965, já com a nova frente em que a grade embutia os faróis. Segundo o dono, o jornalista Flavio Gomes, essa versão homenageava as vitórias de Erik Carlsson no rali de Monte Carlo, as mais notáveis com o modelo. Senta- se sem apertos junto ao volante de madeira, por não haver túnel no assoalho. O painel é completo e chama atenção a quantidade de porta-trecos. Os pedais um pouco deslocados para a direita não chegam a atrapalhar. Se os bancos dianteiros são mais acolchoados, atrás os passageiros mais altos também podem reclamar da altura do teto, mas o espaço no porta-malas chega a surpreender.
A direção sem assistência é leve, mas pouco precisa. O diâmetro do volante possibilita uma posição confortável, mas pela empunhadura fina se sentem os impactos da pista. “É preciso saber dirigir esses carros com motores dois-tempos, que preferem andar em regimes de giro alto”, diz Gomes. O torque se revela em alta rotação, mas o 96 responde prontamente com o gargarejo rouco e o cheiro de óleo queimado característicos desse tipo de motor.
Um motor V4 Ford quatro-tempos enriqueceu a linha 96 em 1967, com câmbio de quatro marchas. Com 1496 cm3, rendia 65 cv e chegava a 155 km/h. Em 1969 veio uma nova frente, com faróis retangulares. Com melhorias pontuais, o 96 durou até janeiro de 1980. Desde o 92, 730607 exemplares foram concluídos. Assim como a Saab, sua nova dona, a Spyker, também traz experiência na aviação. Mas, se com ela outros carros da Saab alçarão voos de longa duração, à semelhança da longevidade e resistência do primeiro modelo da marca, só o tempo vai dizer
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