Em tempos de revolução, grandes mudanças aconteciam nos negócios entre São Paulo e a cidade de Santos, no litoral. O transporte entre as duas metrópoles carecia de outras alternativas além do trem que partia da Estação da Luz, na capital. Na época, havia superlotação nos trens, de onde partiam locomotivas para o interior do estado, para as cidades fora da capital e também para o litoral. Nada era tão diferente do que vemos hoje.
Foi quando a Companhia Geral de Transportes, empresa do grupo São Paulo Railway (administrador do sistema de transporte sobre trilhos), encomendou à Grassi, uma carroceria especial para levar seus passageiros com todo o conforto entre a capital paulista e a cidade de Santos. Os primeiros modelos foram entregues no início de 1934.
Com motor inglês da marca Thornycroft, os ônibus Grassi eram inovadores. Com estrutura de madeira, eram construídos em chapa de aço, com janelas corrediças, sistema de ventilação e vidros de segurança. O nome do modelo estava na moda naquela época. O filme King Kong estreava nas telas de cinema e também batizavam os ônibus da linha regular entre São Paulo e Santos. Afinal, o personagem da ficção era grande como o ônibus de transporte.
O veículo era quase um "dois andares", pois era dividido em dois níveis, e tinha os chamados vidros panorâmicos que ofereciam excelente visão da paisagem da Serra do Mar. A dianteira era alongada e seguia o padrão da época e o imenso radiador, do tamanho de um adulto, impressionava. O mais curioso era sem dúvida o segundo nível do ônibus, que funcionava quase como um segundo andar, para oferecer visão privilegiada aos passageiros
O ônibus descia a serra a 25 quilômetros por hora, que era a velocidade máxima estabelecida na época para o trecho de serra. No total a viagem levava em torno de quatro horas. O trem percorria o trecho entre a Estação da Luz, na capital, até o Valongo, no centro de Santos, em duas horas. Era mais rápido, mais comum, porém desconfortável e de certa forma, massificado naquela época. O sistema de transporte sobre trens era muito popular e era comum a superlotação e os atrasos, o que fazia a viagem de duas horas levar às vezes o dobro do tempo, com longas esperas nas plataformas da estação da luz. O ônibus era alternativa exclusiva e diferenciada.
Os modelos King Kong só foram substituídos na década de seguinte, quando já havia sido inaugurada a rodovia Anchieta, que aumentou o fluxo de veículos entre as duas cidades e alternativas mais modernas em termos de transporte, eram oferecidas aos passageiros. |