Há 60 anos, era proclamada em Berlim Oriental a criação de um Estado socialista, que ficou conhecido como República Democrática Alemã (Deutsche Demokratische Republik). Na Alemanha Oriental, entre 1958 e 1991, um automóvel simples e forte marcou época, pois começou como um projeto inovador e terminou dois anos após a queda do muro de Berlim praticamente sem alterações.
No início, o Trabant (que em alemão significa guarda pessoal) foi concebido para ser um veículo de três rodas como os Fulda ou Messerschmitt, para ajudar a motorizar uma Alemanha destruída pela II Guerra Mundial. Mas o sucesso de carros simples como o Volkswagen fizeram os engenheiros da Sachsering mudar de idéia e partir para um projeto sobre quatro rodas e concepção tradicional.
Em 1958 o Trabant foi lançado, resultado da persistência e dedicação do governo socialista em produzir um automóvel barato, eficiente e de baixa manutenção. O primeiro modelo, P50, era um paradoxo. Por um lado era moderno, com tração dianteira, suspensão independente e carroceria construída em Duroplast, um tipo de plástico rígido combinado com resinas e algodão. Por outro, o Trabant trazia um conjunto mecânico pífio, com motor de dois cilindros, dois tempos, que desenvolvia 18 cv. Estava disponível na versão sedan e perua, ambos com duas portas e estilo atual para a época, sem esconder a inspiração nos DKW da época.
Na década de 1960 o carro receberia algumas melhorias, como um motor mais potente de 594cc, que desenvolvia 22 cv, e também uma nova grade, para-choques e outros itens. Mais tarde, passou a consumir menos óleo, ganhou sistema elétrico de 12 volts e freios redimensionados. Também vieram outros modelos como o P51, P60 e P601, produzido entre 1963 e 1991.
E com o passar dos anos o carrinho mostrou suas qualidades. O Trabi, como ficou conhecido, era econômico (rodava em média 14 quilômetros com um litro de gasolina), praticamente não quebrava, resistia às baixas temperaturas na Alemanha e tinha manutenção simples e fácil.
Em 1973, a fábrica de Zwickau montava o milionésimo Trabant, fato amplamente divulgado entre o mundo socialista, principalmente para onde o carro era exportado como União Soviética, países do leste europeu e em menor quantidade para Bulgária, Bélgica e Holanda.
Os engenheiros da Trabant trabalharam em muitos protótipos para substituir os carros da marca, com design atualizado e motores mais eficientes. Mas por questão de custo, o governo alemão barrou esses projetos.
A grande novidade viria somente em 1988, às vésperas da queda do muro de Berlim. A Trabant incorporou o motor do Polo, de 1,1 litro, quatro cilindros refrigerado a água e suspensão MacPherson, ao modelo P601. A novidade deu ao Trabi um desempenho condizente com seu porte, pela primeira vez desde 1958.
Ainda assim, a fábrica ainda mantinha os vícios de um mundo utópico, e produzia os automóveis de forma artesanal, sem robôs ou a alta tecnologia disponível na indústria alemã da época.
Em 1989, com a queda do Muro de Berlim, os alemães ocidentais se surpreenderam com a grande quantidade de Trabants circulando na Alemanha. Ainda que fosse um carro ultrapassado, era forte e durável, o que surpreendeu seus vizinhos.
A produção dos Trabi durou até 1991, após pouco mais de três milhões de unidades fabricadas. Mas o atraso tecnológico, somado às heranças socialistas que o mundo se apressava em apagar, levou ao fim da era Trabant, após 33 anos de história.
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